Adélia Prado agradece os prêmios Camões e Machado de Assis

26/06/2024 773 visualizações

Cinco dias depois de conquistar o Prêmio Machado de Assis, a poeta mineira Adélia Prado foi aclamada vencedora do Camões, a mais importante distinção da Literatura em Língua Portuguesa.  “Foi com muita alegria e emoção que recebi um telefonema da sra. Dalila Rodrigues, ministra da Cultura de Portugal, me informando que fui agraciada com o Prêmio Camões. Estava ainda comemorando o recebimento do Prêmio Machado de Assis, da ABL, e agora estou duplamente em festa”, celebrou Adélia, diretamente de Divinópolis, em Minas Gerais. “Quero dividir minha alegria com todos os amantes da língua portuguesa, esta fonte poderosa de criação”.

Na tentativa de expressar  o “mais profundo sentimento de gratidão”, Adélia pediu ajuda a um de seus poemas, transcrito abaixo.

O nome do vencedor do Prêmio Camões é escolhido por um júri com integrantes de três países, sendo dois representantes de Portugal, dois do Brasil e dois de países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

O Nascimento do Poema

“O que existe são coisas,

não palavras. Por isso

te ouvirei sem cansaço recitar em búlgaro

como olharei montanhas durante horas,

ou nuvens.

Sinais valem palavras,

palavras valem coisas,

coisas não valem nada.

Entender é um rapto,

é o mesmo que desentender.

Minha mãe morrendo,

não faltou a meu choro este arco-íris:

o luto irá bem com meus cabelos claros.

Granito, lápide, crepe,

são belas coisas ou palavras belas?

Mármore, sol, lixívia.

Entender me sequestra de palavra e de coisa,

arremessa-me ao coração da poesia.

Por isso escrevo os poemas

pra velar o que ameaça minha fraqueza mortal.

Recuso-me a acreditar que homens inventam as línguas,

é o Espírito quem me impele,

quer ser adorado

e sopra no meu ouvido este hino litúrgico:

baldes, vassouras, dívidas e medo,

desejo de ver Jonathan e ser condenada ao inferno.

Não construí as pirâmides. Sou Deus”.