A Câmera Brasileira do Livro (CBL) anunciou os dez semifinalistas do Prêmio Jabuti Acadêmico. A nova segmentação acontece pela primeira vez e vai agraciar produções de cunho acadêmico e técnico. No próximo dia 18, serão anunciados os finalistas de cada uma das 29 categorias. Na categoria especial de Divulgação Científica, a Editora Rosa dos Tempos, do Grupo Editorial Record, concorre com Niéde Guidon: Uma arqueóloga no sertão, da jornalista Adriana Abujamra, que visitou o Piauí para traçar um perfil biográfico inédito da pesquisadora e ativista da Serra da Capivara. O livro inaugurou a Coleção Brasileiras, que tem curadoria da escritora Josélia Aguiar.
Na categoria Direito, a antropóloga Carla Akotirene foi selecionada pelo seu original “É fragrante fojado dôtor vossa excelência” (Ed. Civilização Brasileira), resultado de um trabalho de campo que analisa a institucionalização do racismo nas audiências de custódia. A autora acompanhou centenas de audiências e leu os dados coletados a partir de uma formação que privilegiou intelectuais negros e da diáspora africana.
Da mesma editora, Esfarrapados: Como o elitismo histórico-cultural moldou as desigualdades do Brasil, que disputa a premiação na categoria Antropologia, Sociologia, Demografia, Ciência Política e Relações Internacionais, é a estreia do jornalista e cientista social Cesar Calejon na escrita ensaística. Pela Paz & Terra, a urbanista Joice Berth é semifinalista em Arquitetura, Urbanismo, Design e Planejamento Urbano e Regional com Se a cidade fosse nossa, que já se constitui como uma referência em temas como injustiça ambiental e ecorracismo, entre outros.
Conheça os livros indicados em cada categoria:
Divulgação Científica: Niéde Guidon: uma arqueóloga no sertão (Ed. Rosa dos Tempos) – Adriana Abujamra
Neste perfil da arqueóloga Niéde Guidon, a jornalista Adriana Abujamra revela a bravura e a doçura daquela que dedicou sua vida a proteger o maior tesouro arqueológico brasileiro, a despeito das opressões estruturais e da falta de apoio do Estado.
Desde a década de 1970, Niéde reúne recursos para proteger o Parque Nacional Serra da Capivara – declarado patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. Ainda sem o devido reconhecimento no Brasil, Niéde é célebre internacionalmente por empreender uma revolução no sertão do Piauí, levando educação, arte e melhores condições de vida para toda a região. Nestas páginas, leitores e leitoras poderão se aprofundar não apenas na vida dessa mulher à frente do seu tempo, mas também no cotidiano de amigos e sertanejos que convivem com Niéde e são responsáveis por seu legado.
Direito: É fragrante fojado dôtor vossa excelência (Ed. Civilização Brasileira) – Carla Akotirene
Carla Akotirene faz uma crítica feminista e decolonial dos procedimentos jurídicos expondo a institucionalização do racismo e a perseguição punitivista da população negra.
“É fragrante fojado dôtor vossa excelência” concentra as principais críticas de Carla Akotirene aos aparelhos jurídicos brasileiros, aqui representados pela Vara de Audiência de Custódia do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. As audiências de custódia são uma oportunidade de as pessoas presas em flagrante delito manifestarem os motivos da detenção e as condições de tratamento a que são submetidas pelas forças policiais e judiciais.
Categoria Antropologia, Sociologia, Demografia, Ciência Política e Relações Internacionais (Eixo Ciência e Cultura): Esfarrapados (Ed. Civilização Brasileira) – Cesar Calejon
Nesta obra singular, Cesar Calejon oferece uma explicação simples e objetiva para entender como as desigualdes sociais se formaram e como são reproduzidas no Brasil contemporâneo
Em Esfarrapados, Cesar Calejon destrincha em detalhes os mecanismos culturais e históricos que explicam como as elites se formaram, como atuam para dominar a sociedade e como conseguem manter sua posição de comando e ampliar seus ganhos econômicos exponencialmente. Para que se compreenda como essas dinâmicas de exploração se dão, o autor nos apresenta o conceito “elitismo histórico-cultural”. Trata-se de uma força social que organiza os arranjos sociais com base em categorias de distinção, de forma a criar uma gramática da desigualdade e, em última instância, uma hierarquia moral que rege o funcionamento sociopolítico e socioeconômico de uma comunidade.
Categoria Arquitetura, Urbanismo, Design e Planejamento Urbano e Regional: Se a cidade fosse nossa (Ed. Paz & Terra) – Joice Berth
Nos últimos anos, Joice Berth angariou posição importante na opinião pública com argumentos preciosos sobre os desafios que as lutas antirracista e feminista enfrentam para avançar em pautas fundamentais de igualdade social – seja nos costumes, no mercado de trabalho ou na política institucional. Suas colocações a tornaram referência nas redes, fazendo com que a arquiteta e urbanista de formação fosse rapidamente reconhecida como uma das influenciadoras mais requisitadas para analisar fatos e comportamentos que escancaram nossas questões sociais mais alarmantes.
Em Se a cidade fosse nossa, Joice Berth se volta para o tema principal de seus estudos e preocupações: o direito à cidade. Neste livro, as disciplinas de arquitetura e urbanismo são singradas pela crítica racial e feminista. A autora, através de uma escrita propositiva e acessível, conta a história da formação das cidades brasileiras desde a colonização, para deixar evidente o quanto nossos projetos de urbanização, mesmo os mais recentes, carregam uma herança higienista que teima em se perpetuar. Após a leitura deste Se a cidade fosse nossa, dificilmente o espaço urbano continuará sendo visto como modelo uniforme que distancia centro e periferia, ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres.