A gaúcha Lya Luft, que morreu nesta quinta (30/12), em Porto Alegre, vítima de um câncer de pele, era uma das autoras nacionais de maior popularidade deste século. Lançado em 2003 pela Editora Record, ‘Perdas & ganhos’ superou a marca de cem semanas na lista de mais vendidos. Lya permaneceu ativa até os últimos anos de vida em diferentes frentes das atividades literária e artística. Sua obra ‘As coisas humanas’, a mais recente, lançada em 2020, foi finalista do Prêmio Jabuti na categoria crônicas. O livro, escrito sob o impacto da morte de um de seus filhos, André, traz reflexões sobre os mistérios da vida e tantos outros escritos biográficos.
“Lya era escritora de uma sensibilidade enorme. Suas palavras sempre impactavam seus leitores, trazendo reflexões e sabedoria. Lembro de um trecho do ‘Perdas & ganhos’ em que ela pergunta se o Anjo da morte bater na sua porta o que você dirá para ele não te levar? As razões que você dará para que ele te dê mais tempo ainda nesta terra. O Anjo chegou, e as palavras para convence-lo se calaram. Perde o Brasil uma das suas maiores cabeças pensantes”, lamenta Sonia Machado Jardim, presidente do Grupo Editorial Record..
Entre os últimos trabalhos de tradução, lançados pela Editora Record, estão ‘Sobre a natureza humana’, do filósofo inglês Roger Scruton, e ‘Maria Stuart: biografia’, de Stefan Zweig, vertido diretamente do alemão. Vinha se dedicando também à pintura a óleo. Era colunista do jornal Zero Hora.
Natural de Santa Cruz do Sul (RS), Lya sempre procurou refúgio nos livros desde menina, como relata na crônica ‘O relógio silenciado’:
“Quando eu estava mais agitada ou talvez desobediente demais, curiosa demais ou rebelde demais, nas mínimas rebeldias de uma menininha de cinco ou seis anos – e minha mãe já não sabia o que fazer -, ou simplesmente quando queriam me agradar, botavam-me na biblioteca depois que meu pai fechara seu expediente ou era fim de semana”.
Na crônica ‘O grande silêncio’, que encerra seu último livro, Lya escreveu:
“No fim tudo estará apaziguado;
haverá um fechar de pálpebras
e um esquecimento;
não haverá mais começo nem fim,
nem pensamentos
porque serão supérfluos: tudo será intuição.
Não haverá mais palavras”.